29.5.11

Sadomasoquismo.

Sento-me no canto, a olhar para lá da minha janela, como faço em tantas outras noites, vazias como esta.
Mais uma noite em que o meu castelo de cartas de desmorona. Mais uma noite em que uma brisa fria, repentina e feroz quebra o gelo. Mais uma noite em que as lágrimas queimam os meus olhos e me deixam sem nenhuma outra opção a não deixá-las cair, rolar pelo meu rosto abaixo.
Mas queimam porque não são lágrimas de dor. São lágrimas de fúria, de destruição. São réstias dos meus sonhos que a tal brisa feroz dissipou.
E é aí, sentada no meu canto, que me apercebo da pior das minhas realidades: eu não vivo por mim. Pelo menos, não o estou a fazer. Vivo condicionada às vontades e às decisões dos outros. Deixo as minhas próprias vontades à deriva, só para conseguir agradar e não ter problemas. Só para me afastar da dor da exclusão. E o que é que isso me traz? Dor. Tão irónico, tão sádico. Essa cruel realidade atira-me à cara, como uma chapada bem dada, a minha passividade. E ser passiva é o pior que posso ser. Não ter o controlo da minha vida e do seu rumo é o pior castigo que alguma vez irei ter. Contudo, não contrario esse facto. Não consigo contrariá-lo. E, em cada vez que prometo a mim própria que o vou mudar, nunca o faço. Nunca o faço com medo de desiludir. E, com medo de desiludir os outros, desiludo-me a mim mesma. E isso dói mil vezes mais.
Se calhar, a Vida é mesmo sádica e eu sou mesmo masoquista.

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